sábado, 8 de setembro de 2012

Quando Londres telefona eu atendo sempre.


A maioria das pessoas que conheço, emigrantes ou não, não gosta de londres. Talvez porque seja a cidade que de tão cool deixou de ser cool dizer é onde se quer viver, provavelmente porque já todos quisemos, numa adolescência mais ou menos distante, cá viver. Eu quis. Quando tinha 11 anos e vim pela primeira vez a Londres, disse à minha mãe que era onde queria morar quando fosse grande. Depois fui-lhe dizendo o mesmo de Amesterdão, Nova Iorque, talvez até de Barcelona, não me recordo. O que interessa é que a leviandade com que ia demonstrando o meu desejo por outras cidades à medida que as ia conhecendo de alguma forma retirava o enfase do amor primeiro e a coisa foi-se esquecendo. Aos 14 estive quase a abandonar a escola portuguesa por um ensino secundário numa escola interna inglesa. A minha directora de turma da altura, uma quase segunda mãe, dissuadiu-me do projecto, pondo a nu que razões que me motivavam não eram as certas. Depois veio a universidade, e o Erasmus, e londres e o king’s college voltaram a estar em cima da mesa. A febre do pós 9/11 e uma disposição especial do meu carácter – que aos 21 anos se obsecou com a ideia de haver um atentado ao estar eu separada dos meus loved ones e se fincou com todas as forças ao solo pátrio. Não era medo de morrer mas a ideia de que se caísse uma bomba onde quer que fosse eu quereria afundar-me com as pessoas que amava. Uma profunda parvoíce de pós-adolescência neurótica que (talvez) apenas o meu psicólogo possa (superficialmente) entender. A verdade é que eu sair com um urbano-depressivo* – assim perfeitamente taxado por um perspicaz amigo, hoje rock star destacado no retângulo, na altura apenas alguém com quem me baldava às aulas da tarde para ir ao cinema e discutia categorias descritivas do mundo que nos rodeava - também não deve ter ajudado. Assim sendo e para compensar, pumba, desisti da universidade pelo segundo ano consecutivo. Ora toma! (Depois voltei a ser uma menina bonita, fiz praticamente os quatro anos do curso em dois e compensei os desvarios.) Curiosamente, quando finalmente me decidi a dar o baza de Lisboa, Londres não apareceu no horizonte. Nem quando quis continuar a estudar fora e podia ter-me decidido por uma universidade inglesa – o que teria sido uma decisão muito mais acertada do que a que tomei. Mas as decisões, toma-as a vida e não eu, uma coisa que me irrita profundamente no meu carácter, e lá fui eu para Barcelona. De qualquer forma quando venho a Londres pergunto-me sempre porque é que não venho viver para aqui, já que saio sempre daqui uma pessoa nova. Só aqui numa sexta-feira à tarde de 24 graus estou na relva de Hampstead Heath a ler um livro e tenho ao meu lado miúdo com não mais de 3 anos a cantar incessantemente o beat it do MJ.Ora toma!
*O visado odiou a categoria que lhe espetamos e falou muito sobre isso com o seu psi, como ele lhe chamava, também me ficou com vários livros, mas por bem da minha saúde decidi não reclama-los. (Estou a ser má, mas o visado merece.)

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