A maioria das pessoas que
conheço, emigrantes ou não, não gosta de londres. Talvez porque seja a cidade
que de tão cool deixou de ser cool dizer é onde se quer viver, provavelmente
porque já todos quisemos, numa adolescência mais ou menos distante, cá viver.
Eu quis. Quando tinha 11 anos e vim pela primeira vez a Londres, disse à minha
mãe que era onde queria morar quando fosse grande. Depois fui-lhe dizendo o
mesmo de Amesterdão, Nova Iorque, talvez até de Barcelona, não me recordo. O
que interessa é que a leviandade com que ia demonstrando o meu desejo por
outras cidades à medida que as ia conhecendo de alguma forma retirava o enfase
do amor primeiro e a coisa foi-se esquecendo. Aos 14 estive quase a abandonar a
escola portuguesa por um ensino secundário numa escola interna inglesa. A minha
directora de turma da altura, uma quase segunda mãe, dissuadiu-me do projecto,
pondo a nu que razões que me motivavam não eram as certas. Depois veio a
universidade, e o Erasmus, e londres e o king’s college voltaram a estar em
cima da mesa. A febre do pós 9/11 e uma disposição especial do meu carácter –
que aos 21 anos se obsecou com a ideia de haver um atentado ao estar eu
separada dos meus loved ones e se fincou com todas as forças ao solo pátrio.
Não era medo de morrer mas a ideia de que se caísse uma bomba onde quer que
fosse eu quereria afundar-me com as pessoas que amava. Uma profunda parvoíce de
pós-adolescência neurótica que (talvez) apenas o meu psicólogo possa (superficialmente)
entender. A verdade é que eu sair com um urbano-depressivo* – assim
perfeitamente taxado por um perspicaz amigo, hoje rock
star destacado no retângulo, na altura apenas alguém com quem me baldava às
aulas da tarde para ir ao cinema e discutia categorias descritivas do mundo que
nos rodeava - também não deve ter ajudado. Assim
sendo e para compensar, pumba, desisti da universidade pelo segundo ano
consecutivo. Ora toma! (Depois voltei a ser uma menina bonita, fiz
praticamente os quatro anos do curso em dois e compensei os desvarios.) Curiosamente,
quando finalmente me decidi a dar o baza de Lisboa, Londres não apareceu no
horizonte. Nem quando quis continuar a estudar fora e podia ter-me decidido por
uma universidade inglesa – o que teria sido uma decisão muito mais acertada do
que a que tomei. Mas as decisões, toma-as a vida e não eu, uma coisa que me
irrita profundamente no meu carácter, e lá fui eu para Barcelona. De qualquer
forma quando venho a Londres pergunto-me sempre porque é que não venho viver
para aqui, já que saio sempre daqui uma pessoa nova. Só aqui numa sexta-feira à
tarde de 24 graus estou na relva de Hampstead Heath a ler um livro e tenho ao
meu lado miúdo com não mais de 3 anos a cantar incessantemente o beat it do MJ.Ora toma!
*O visado odiou a
categoria que lhe espetamos e falou muito sobre isso com o seu psi, como ele
lhe chamava, também me ficou com vários livros, mas por bem da minha saúde
decidi não reclama-los. (Estou a ser má, mas o visado merece.)
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