segunda-feira, 25 de abril de 2011

um bocado de "Um adeus português" famoso num dia em que a modos que estou a pensar na pátria

(...)
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
(...)

Alexandre O'Neill

diz-se nos cursos superiores de línguas e literaturas modernas que do O'Neill gosta quem não gosta de poesia.talvez seja verdade.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

1999

Quanto mais se vai falando de 25 de Abril, menos se vai falando do 25 de Novembro. E vai-se inulcando no espirito das pessoas a ideia de que este regime de inaugurou com o 25 de Abril. E tudo o que agora temos, bom e mau, é produto desse 25 de Abril. Haveria toda a vantagem em fazer uma distinção e dizer às pessoas que a democracia oficial está a apagar os "vestígios do crime". Não seria demasiado falar numa prostituição do 25 de Abril, na medida em que tudo aquilo que teve de criador, de democracia das massas trabalhadoras, hoje é apresentado como uma aberração, o anarco-populismo, o PREC, uma espécie de excerescência que apareceu mas que depois bateu em retirada.
Não, apareceu um regime com uma burguesia tornada extremamente vulnerável porque tinha aderido durante quase 50 anos ao regime fascista. Inicialmente, houve uma oposição, mas, durante bastantes anos, o grosso da burguesia aderiu, aceitou, colaborou com esse regime fascista. Forçosamente, ao chegar ao fim, viu-se em fortes dificuldades, e isso permitiu criar um regime com estas características novas. Aquilo que foi criado entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro não são aberrações, não é terror anarco-populista, não é nada dessas calúnias lançadas, mas criações que eu acho que têm futuro (embora hoje sejam difamadas), porque a situação que temos não é o fim da história. As ocupações, as comissões de trabalhadores, as comissões de soldados, a liberdade nos quartéis, a liberdade dos trabalhadores, as assembleias, vão ressurgir, porque os povos têm a sua memória histórica. Numa nova situação de crise deste sistema, esse tipo de realizações é um capital, vá lá, a palavra não é muito boa, mas é um capital adquirido que vai surgir novamente.

Francisco Martins Rodrigues, entrevista à História, nº13 Abril 1999

quinta-feira, 14 de abril de 2011

dos tranportes públicos

sou grande defensora da utilizaçao de transportes públicos (excepto o autocarro em cidades onde nao há um painel a informar sobre o tempo de espera), mas creio, no entanto, que os transportes públicos nao gostam muito que eu os utilize. bem, na verdade a minha questao é um pouco mais pessoal, o meu problema é mesmo com o metropolitano de lisboa, a quem eu já escrevi várias cartas de reclamaçao, mas que insiste ou em ignorar-me ou em responder-me a dizer que me falta a razao.
as minhas últimas asneiras em voz alta, proferidas diante duma máquina automática no dito cujo, ocorreram a semana passada numa curtíssima visita à capital desse desastre de país, também conhecido por ter as fronteiras establecidas mais antigas da europa (de que lhe vale isso, nao sei bem, mas é coisa em que se insiste com frequência). há uns anos, algum ladrao dessa empresa descobriu como roubar os utilizadores sem que eles dessem bem por isso e inventou uma porcaria - que merecia ser designada por uma palavra mais forte, mas que o decoro neste momento nao me permite - duns cartoes de papel supostamente recarregaveis. teve ainda a desplaçatez de cobrar 50 centimos por cada pedacinho deste papel e dar-lhes como prazo de validade um ano(!). como já tive ocasiao de fazer saber ao metropolitano, aquele pedaço de papel nao dura um ano, nem envolto em papel celofane e desta maneira lá me vao eles roubando impunemente. nesta última ocasiao digna dos meus palavroes roubaram-me quase 2 euros, pois os 3 cartoes que dispunha impecavelmente guardados na minha carteira (um dos quais havia usado na noite anterior) foram considerados pela máquina como caducados (?!). um com 66 centimos, outro 22 e outro 54. além de ter de comprar um bilhete de ida e volta, lá foram mais 50 centimos noutro pedaço de papel. num só dia e só a mim o metropolitano de lisboa fez-se a quase 2 euros.
ando a magicar formas de boicotar o pagamento no metro de Lisboa, pois já me roubaram o suficiente. se alguém tiver um método que queira partilhar, sou toda ouvidos.
por outro lado, a TMB baixou, ainda que temporariamente, os preços do título de transporte, algo inédito nestes 28 anos que levo de vida.

da resmunguice

como tenho uma catrefada de coisas inteligentes para escrever, com prazos a alternarem entre o para ontem e o para amanha, venho para aqui resmungar um bocadinho. este blog, que há tanto tempo está à procura de uma linha editorial, crê que passados quase 4 anos (ou passados mesmo, nao me apetece muito ir fazer contas)  encontrou finalmente a sua verdadeira  paixao: a resmunguice.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

da tendência para a peixeirada como sinal de diferenciação


Portugueses e espanhóis (oh heresia das heresias!) somos muito parecidos (heresia ainda maior), mas nas pequenas coisas temos um mundo inteiro entre nós. Começando pela desgraçada da comida, cuja a explicação que consigo encontrar é apenas a mais precoce e extensiva industrialização espanhola - pão miserável, sopas asquerosas e gordurosas, comida caseira e supermercados cheios de congelados e enlatados - passando pelo entusiasmo pela vida, que no estado espanhol (um ponto para o politicamente correcto, poing!) existe e acabando, por agora, na incapacidade de um espanhol se manifestar efusivamente sem cair na peixeirada.
Se há diferença substancial entre nós é esta: em Portugal a peixeirada (salvo algumas excepções) está confinada à praça ( até há aquele bem bonito dito "pensas que estás na praça ou quê?") e aqui está por todo o lado, não faz distinção de género, idade ou classe social (embora faça alguma diferença a geografia). Seja uma discussão ou a mais corriqueira das conversas há um estrilho de bradar aos céus e de deixar qualquer potuguês com a sensação "chiça, que terá passado!?".

sexta-feira, 1 de abril de 2011

selva urbana

à minha frente caiu um pombo, do nada, pum. três segundos depois uma gaivota a estraçalha-lo como se nao houvesse amanha. blach, asqueroso. tudo isto a dois metros da avinguda diagonal, essa grande artéria barcelonense. bem-vinda primavera.

Enganados